Musicas

28 de set. de 2020

Queria saber dos Demônios...

Que é um demônio?
o que é que tanto o ser humano abomina?
porque um demônio nos quer mal diante da vida?

Seria o demônio uma fantasia?
Dessas, sexuais, onde entramos em ecstasy com o sofrer
criamos uma imagem mutilada do mundo
e lhe atribuímos poder, será?

O demônio é uma entidade própria?
Com desejo, vontade e capaz de se entediar?
O que entediaria um demônio?
Que tanta diversão ele encontra em estar entre nós?

Eles são entidades diferentes de nós?
Seriam de um outra forma de existência?
Se é que cabe a palavra "existência"

Estamos todos em delírio coletivo?
Eis que nenhum demônio existe e é tudo humano,
tudo invenção, traição e dominância.
E então, demônios são apenas uma mascara...
dessa nossa natureza repreensível?

que serão os malditos demônios?
será que eles são algo?
devemos temer os demônios?
ou devemos temer quem os invoca?

E o pacto?
Quem é procurado para o pacto?
Por que é procurado para o pacto?
Que é esse maldito pacto?
Que teríamos a oferecer a um demônio?

Seria o demônio um inimigo vencível?
Uma espécie de obstáculo a se superar?
Seria uma figura de linguagem para uma espécie de moral?
Um inimigo comum a politica?

Seria o demônio o lixeiro de Deus?
Para Deus descartar os filhos que, modéstia à parte, pensam por si só...
Para jogar-lhes numa flama eterna?
Qual motivo levaria um demônio a um serviço tão tosco?
E outra, se ele "pune os maus",
e é obediente a Deus, um servo,
o que o torna maldoso?

Outra hipótese é que demônios não estão nem aí.
Onde estão? 
Não estão.
Nem - mesmo - aí.

27 de set. de 2020

O Motivo

De tanto ser-me,
e amputar do outro o poder sobre mim,
de ser-me como sou puramente,
sem criar um personagem ideal para idealizarem-me,
ser-me esse ser inadmissível,
as vezes esqueço do motivo de ser-me.
ser a si mesmo dói.
dói porque não existe um papel fictício para esconder nossas mazelas,
não existe um papel puritano para disfarçar ser um depravado,
mostrar ao outro como sou,
e sou assim,
podre.
incoerente.
depravado.
triste.
é fácil esquecer de porque eu gosto de ser-me,
ser-me é doloroso
mas o motivo para ser-me é um só.
é uma garantia, que vale a pena.
a garantia de que o outro tem boas condições de me ler e saber quem sou.
mas não sou por ele, nem jamais seria,
sou egoísta demais para isso.
sou para ele, nele.
na imagem que ele tem de mim, nessa aparência.
e se nessa aparência ele encontra um bom afeto, basta.

De qualquer outro modo,
se eu fingisse ser um ser agraciado, positivo,
virgem e comprometido com ideais que não são os meus,
eu teria que viver na certeza de que o outro não gosta do ser que sou,
mas sim,
do ser que eu inventei pra ele.
e essa dor de saber que o outro ama uma invenção não me basta.

A dor de ser-me é compensada pela tranquilidade de ser-me.
você que gosta de mim, gosta de algo próximo do que eu sou.
você que me ama, ama uma ideia próxima do que sou.
você que me odeia, tem ódio a aquilo que eu lhe apresentei, algo que sou.
e que assim seja:
se relacione com uma ideia mais próxima do que eu seja
a partir de mim, tire suas conclusões.

Não confundir jamais, 
a tranquilidade de ser quem se é com 
a tranquilidade de ser amado facilmente,
quando se escolhe viver sendo-se fiel a si,
percebe-se uma verdade dolorosa:
o amor é escasso e frágil
dá-se mais valor para sentimentos.
esses que brotam em relação,
relação é afeto de mão dupla.
Sei de você com as mesmas ferramentas que você tem
pra saber de mim.
É só esse o motivo.


22 de set. de 2020

Desistência

Eu precisava sumir um pouco,
Virar pó. 
Ser esquecido.
Me esquecer de mim. 
Porque revivo muito meus erros, 
E não sei me perdoar. 
Daí eles ficam me artormentando. 
E eu queria mudar, ser outro. 
Mas não dá. 
Então queria sumir uns tempos, 
Pra esquecerem de mim. 
Porque eu creio não ter nada significativo pra lembrar. 
Não ha nada de bom que eu tenha feito
Que qualquer outro pudesse fazer, 
Ler, escrever, estudar. 
Não há nada de eu que seja meu mesmo, 
Que seja valoroso pra se apegar, 
Então melhor que deixem de me recordar, 
Que o tempo passe e deteriore tudo. 
Meus erros, constrangimentos e vergonhas. 
Pois só mesmo o tempo tem tamanha força. 

14 de set. de 2020

Mudança

Geralmente,
Quando meu coração parte, 
E eu tenho que esquecer alguém, 
Abandonar qualquer perspectiva, 
Me vem uma sensação incomoda, 
A de que, talvez, 
Eu nunca mais va amar alguém tanto, 
Que um amor como esse não se repetirá. 
É um lamento. 

Isso ocorreu tanto, 
E de formas tão repetidas, 
E repetitivas. 

Mas hoje, 
Ao tentar lidar com a rejeição, 
Ao sofrer para abandonar um sentimento, 
Eu simplesmente me assusto, 
Pensando que, com certeza,
Essa vez foi a mais intensa, 
A mais forte,
E ao invés de ser um lamento essa perda, 
É uma esperança.

Talvez eu tenha dificuldades em mudar. 

6 de set. de 2020

Erro reincidente

A gente se magoa,
Porque queremos ser especial pra alguém, 
E quando temos alguém especial pra nós, 
Geralmente isso é desprezado.
Ou ainda... 
Não é dado o devido valor.
Somos traídos pelo afeto. 
O afeto,
que é uma especie de bússola das relações,
falha. Isso dói. 

E seguimos erroneamente errando, 
Como errantes que amam o errar, 
Como burros persistindo no erro, 
De querer, de alguma forma, 
Ser especial pra alguém. 
Na medida em que isso dá certo, bom. 
Na medida em que dá errado, dane-se. 
O importante parece ser tentar.