Musicas

16 de jul. de 2019

Tragédia

Meu coração ardia feito flama,
Queimava.
Dava pra ouvir os estalos.
Do ar expandindo energias.

Aos poucos virou brasa,
Laranja, incandescia, ainda quente.
Calma, aconchegante.
Uma boa companhia no frio.

Depois cinzas.
Com presença forte,
Atrapalhando tudo.
E sumindo aos poucos.

Dissonância

O coração que arde,
A garganta com sapo,
Os olhos inquietos,
As mãos tremulas,
Os dedos formigando,
O ombro pesa,
O pescoço tenso,
A expressão carregada,
As sobrancelhas levantam,
E o gosto de sal.

6 de jul. de 2019

Sofrimento

Molhado o rosto ocorre.
Linhas demarcadas salgam,
Agrava-se da dança do fogo
Que arde o peito.

Mundo que fere,
versus desejo que fortalece.

Reconheçamos a roda,
essa, que gira sem controlarmos,
essa, que grita nossos nomes,
cometendo a heresia de nos contar quem somos,
e ainda, mais dolorosamente, quem devemos ser.

Vozes desalmadas!
Não há alma que eu possa enxergar,
Só enxergo corpos que matracam,
balbuciam mentiras incontáveis,
travestidas de verdades ambulantes.

Um animal, que era puro desejo,
passa a ser "Eu",
na medida em que nega o mundo que lhe falta,
para dar conta de responder a tantos gritos.
Gritos desalmados.
Discursos que nos moldam.

Angustia!
Angustia pois dói,
dói saber que poderia ser diferente,
mas os recursos civilizatórios não se esgotam,
e essa guerra jamais terminará,
enquanto vida, tempo de sofrimento.

Guerra do animal que tem desejos.
Mas com um mundo que o Frustra incessantemente,
e que não sai de sua frente,
até a morte.

3 de jul. de 2019

Ele passa.

Átomos!
Átomos e vazio.

Vazio para que os átomos transitem,
Átomos na imanencia da nossa percepção,
Que aparentam estar parados,
E que tentamos flagra-los com simbolos,
Palavras, gestos, expressões.
Mas o vazio nos sabota.

Na imanencia dos átomos,
Não há nada que possa ser,
Tudo deixa de ser, transita, muta-se.
Se destrói, se deteriora,
Se transmuta, deixa de ser,
Para apenas estar...
Por um breve instante na nossa percepção.

Instantes que também modificam a percepção.
De mundos tristes e alegres.
De mundos que são belos,
E mundos que não desejamos assistir.

Graças a isso,
Do que posso falar sobre um sentimento fugaz?
Desse que brota em minha constituição atômica...
Quando o mundo que percebo o circunscreve?
Posso dizer que no instante que o percebi, amei.
Desejei. Enrijeci.
Bem como eu queria que o mundo enrijecesse.

Ah! Vazio ingrato!
Como podes putrefar a beleza?!
A beleza do instante que percebido por mim,
Me causa a demanda do toque,
Como eu queria adentrar esse instante,
Que vazio, me esvazia das dores.
Que vazio, me ameniza do passar do tempo.
Mas que por ser átomo,
Tem efeito em meu corpo.

Ah mundo!
Como pode ser que este que no vazio me enche,
Não me preencha internamente,
Vislumbro de longe os olhares cruzando.
E lamento,
Pelo instante que acaba de passar.

E na sequência inexplicável,
Espero, sempre temendo,
Essa manifestação mais bela dos átomos
imanente a minha percepção,
Do mundo da carne...
E como é duro esperar.

2 de jul. de 2019

Do tesão.

De que vale se apaixonar?
Se teu amor não será.
Pois apaixonar-se pela eternidade...
De algo terreno, vadio.
É como lascar-se num espelho,
Manchando tudo de vermelho,
E estragar sua imagem.
Que seja pouco, que seja hoje.
Mas que seja, em alguma medida,
Verdadeiro.