Musicas

22 de jan. de 2023

Arte

Não curvar-se diante de tiranos,
Apresentar a vida à sua resistência, 
À sua arte: sua potência em si. 
Transferir tua energia à sua criação, 

Sua vida,
A história de como você morreu, 
Sua existência, dor e sofrimento. 

Todos amaldiçoados, 
Os valores se tornando preços, 
Os encontros viram venda. 
E os afetos, disputa. 

Sua força é vida pura. 
Nesse mundo da carne e osso, 
Só a arte cura. 

Segundo

Ainda me lembro do seu corpo,
De tocá-lo nas manhãs. 
Nós, numa cama de solteiro, 
Eu só ouvia sua respiração, 
Meu coração sempre se acalmava, 
Sua presença tinha esse poder. 
Lembro do cheiro do seu cabelo, 
Seu olhar desamparado, 
Do formato do seu peito, 
A sua pele... 
Houve um abraço em específico
Me comoveu, 
Era inusitado que você me abraçasse, 
Geralmente sou eu que toma iniciativa,
Foi transparente a intenção, 
Até demais.
"Fique!"
Gritava teu abraço.
Me segurando firme, 
Enquanto minha fúria destruía tudo. 
Destruí, alquimista que sou. 
E seu gesto foi pro além. 
Para o meu pesar,
Para cair no esquecimento. 

Entrega

Sou mesmo especial pra você?
Não sinto a sombra desse sentimento, 
Talvez não seja prudente... 
Desejar esse tipo de coisa. 

Eu nem sei bem. 

Talvez seja o jeito único de me chamar, 
Ou me buscar quando quer ouvidos, 
Eu não sei o que é especial, então... 

Devo ter esquecido, 
Faz tempo que não confesso nada. 
As sensações passam como vento, 
Nem vi, passou e esfriou. 

Que será essa coisa nefasta? 
Tenho medo que percebam minha fuga, 
Só me doo a quem floresce. 
A quem procura sentido. 

Isso

Não conviver com isso.
Eu bem sei que vem e vai, 
Como uma chuva num dia de verão. 

É intenso demais pra que isso me console, 
Essa maldição parece me tomar tudo. 
Tudo, em sentido amplo, 
Eu chego a esquecer quem eu sou. 

Não é que eu seja puxado pra baixo, 
Nem pra cima, 
É me colocar do avesso. 
Eu não me reconheço. 

Passo a visitar recordações, 
E percebo cicatrizes profundas, 
Não há paisagem que me distraia. 

Aos símbolos, dedico horas, 
Penso em cada palavra, cada gesto, 
Me apavoro nas minhas conclusões, 
E tenho medo de comentá-las. 
E talvez, seja parte disso. 

20 de jan. de 2023

Darkness

Algo está criptografado em meu peito,
É o grito silencioso, 
Um fim em si. 

E não há resultados, 
O convite a se retirar é vão. 
Abandono não serve-me. 

Parece sem hora, 
A pausa pra falar, 
O arremate. 

Por mais simples que fosse, 
Eventos me deformaram irreversivelmente, 
Nenhum significado eu encontro, 
Sou incapaz de acreditar que adiante. 

Preciso guardar, 
Manter em segredo, 
Me salvar desse devaneio tosco. 
Afugentar quaisquer esperanças. 

Preciso ser a própria treva. 

10 de jan. de 2023

Na sua estante.

Perdido eu estou,
Nesse maremoto de afetos, 
Sem vetor pra me levar. 

O passado me assombra, 
Essas memórias ainda conseguem me encantar, 
Mas o entendimento que busco é futuro. 

Antes só, 
Do que me roubem a paz de espírito, 
Me oferecendo menos do que exijo. 
Exijo sim. 

Minhas lagrimas só servem a gente de carne e osso. 
Não sou enfeite e, portanto,
Não decorarei sua estante.
Nem seu instante.