Talvez haja uma grande vontade de cuidar do próximo. Uma preocupação e uma esperança de que a vida do próximo vai dar certo para o próximo, tenho a nitida impressão de que a maioria pensa e age assim, o problema é que a vida é curta demais para conseguirmos entender a diferença entre eu e o outro, a ponto de perceber que o outro tem significados diferentes para as palavras "cuidar, dar certo“ e com isso, nascem as fofocas, ocorrem as desavenças, egos feridos.
Cuidar do próximo sem saber o que se passa pela cabeça dessa pessoa é como tentar encontrar algo no escuro, pode ser que dê certo, mas é muito difícil.
Quando digo que não da tempo, é por que precisariamos aprender a ouvir verdadeiramente o outro, entender o que ele quis dizer e responder de forma clara, e parece que há um buraco imenso nesse tipo de compreensão, não é só linguagem e afeto, é também o choque entre duas mentes complexas e mal conhecidas até por si próprias.
Então, como é que poderiamos melhorar a humanidade em cuidar da vida alheia?
Há muitas formas, e são tão diversas, mas parece que há nitidamente uma coisa em comum entre todas: o outro deve deixar você cuidar dele para virar um cuidado, um conselho, um presente, caso contrário, pode virar um moralismo, uma implicância, um deboche.
Todos nós precisamos de ajuda, cuidados e conselhos. Cada um em uma intensidade e tempo diferentes, mas se não precisássemos, não haveria sociedade e nem estado.
Mas isso é tão difícil de se compreender que cada vez mais é comum ver médicos que não gostam de curar pacientes, professores que não se preocupam em ensinar alunos, familiares que abandonam seus entes queridos. A vida de forma geral está se tornando insuportável, cansativa e sem muita esperança.
Nem estou citando desafortunados, pessoas que não tiveram chance de trilhar outra vida, o exemplo dos médicos é grave e ilustra bem o que estou querendo apontar, pensa na dificuldade que existe em cursar medicina pra fazer algo que não se tem o menor prazer... Estamos vendendo não só o nosso tempo, estamos vendendo nossos afetos.
Mas há aqui outra dificuldade, esse texto ja é uma tentativa de cuidar do próximo, mas parece que não é a melhor forma ainda. Parece um julgamento externo, como se eu não me enxergasse dentro do problema, ou o inverso, como se eu estivesse pegando um problema meu e transpondo no outro. Não é nada disso, a mensagem pode ser mais simples: há varias maneiras de cuidar, poucas são pensadas, então deveriamos focar em encontrar uma forma própria de cuidar do proximo e que seja prazeirosa, pois, fofoca, por exemplo, é destrutivo, ter alunos e não ter vontade de ensinar, também é destrutivo, percebe? É fácil ter boas intenções e na prática ser destrutivo. "de boas intenções o inferno está cheio"
Musicas
20 de mar. de 2019
Boas intenções?
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