Musicas

26 de jan. de 2020

Diagnóstico

Eu sou uma alma triste,
O vento que bate em meu rosto não me alivia, 
Meu olhar descontraído é perdição. 
Eu nem ouço o que dizem. 
Me pergunto por que tão errado? 
Eu sou uma alma triste. 
Triste pois de tanto ver coisas erradas,
Constato: sou fraco e não consigo mudar nada. 
Faço pouca diferença. 
Fraco, me junto a outros. 
Pra ser reativo, moralista, implicante. 
Pois queria um mundo mais justo. 
A pena é ver que esse mundo é ideia. 
Então o vento me passa e me traz lucidez. 
De que talvez ele seja a única coisa leve. 
O resto pesa. 
Falsas amizades, falsas declarações. 
Mentiras fortes e abundantes,
É doloroso saber de forma nítida o que é falso. 
Mas sobre o que é de fato, 
Só uma breve ideia, 
Um esboço mal traçado...
De verdades raras, escapadiças.
Sou uma alma triste, 
Pois as felizes abusam de mim. 
Pois as ricas me exploram. 
Pois as bonitas debocham. 
Pois as sábias me diminuem. 
Pois as amantes me desprezam. 
Eu, alma triste,
Estou fadado a conviver com almas tristes.
Que toleram minhas idiossincrasias. 
Minha depressão, minhas síndromes, 
Minhas paranoias. 
Pois nem a saúde se salvou. 
"muito bem: dai-me teu tormento."

19 de jan. de 2020

Revolta.

Tenho a nítida impressão de que
Tudo o que sentimos é lixo. 
Descartável, e as vezes nojento. 
Mas que essa afirmação assusta. 
Então tentamos convencer o outro que não,
Embora o mundo não cesse, 
Em nenhum segundo sequer, 
De fazer com que engulamos nossos afetos. 

A gente tenta convencer o outro, 
Mas não consegue mentir pra si mesmo. 
É tudo um jogo imbecil. 
Com regras tristes. 
Cor da pele, sangue, formato, 
Genitalia, genitalia, genitalia. 
É um mundo insano. 
A gente nem quer saber de ninguém.
Só desse buraco impreenchivel. 
De um amor rico, de um amor valoroso. 
Mas que é um lixo. 
Algo completamente asqueiroso. 

Mas ainda tentamos convencer o outro, 
Pois a nossa desgraça não é o suficiente, 
Não nos abalamos pela evidência. 
A vida segue de um jogo triste. 
Um jogo de verdades. 
De ilusões, de ficções, de faxadas, 
De erros!

Nós somos o animal asqueiroso, 
Querendo feder a divindade. 
Não se sabe nem o que é amor, 
Sabemos o que é dinheiro. 
Sabemos o que é privilégio. 
Se dar bem, se dar bem. 

Humanos desgraçados. 

9 de jan. de 2020

Espelho

Ele berra pra mim,
Ele briga comigo. 
Aponta onde dói. 

Delírio.

Já é noite,
Eu não quero dormir. 

Eu lembro dele, 
E de todo o meu amor, 
Sentido apenas por mim, 
O seu toque e seu coração. 

Como dói. 

Ser abandonado pelo seu amor não correspondido. 
Mas é a calada da noite que berra as maiores poesias. 
Grita desesperada por atenção. 
Eu não sei o que fazer sem ele. 
Eu sinto falta de seu olhar, 
De seus resmugos a noite. 

Eu terei que conviver com isso. 
Eu terei que conviver com isso. 
Conviver com isso. 
Eu. 

Eu sei, 
É egoísmo demais apontar meu coração partido. 
Me fechar num sentimento sem sentido algum. 
Mas quem foi o imbecil que disse que eu controlo isso? 

Ele era o meu mundo inteiro. 
Meu norte, meu objetivo. 
E é algo difícil de abandonar. 

Pensar nisso como uma paixão qualquer. 
Um delírio da meia-noite. 
Meu novo bicho papão. 
Minha nova assombração.
E eu... 
Eu terei que conviver com isso. 

Surto

As minhas rugas começam a surgir,
E eu começo a me tocar, 
Que eu ja não tenho esperanças. 

Talvez eu ja tivesse entendido, 
Mas não queria aceitar. 
Sou metade narcisista, 
Metade paranoia. 

Desconfio dos outros. 
Confio demais em mim. 
E é melhor que seja assim. 

Eu tentei entregar meu coração, 
E sempre me decepcionei. 
Eu simplesmente desisti de me decepcionar. 

Mas hoje eu me frustro, 
Por que eu me lembro do doce sabor, 
Que é sentir algo por alguém. 
É uma saudade que dá vontade de gritar. 
Mas minha vaidade jamais se curvará a ninguém. 
Eu sou mais que tudo isso. 
Mais que essa cabeça neurótica. 

Talvez eu devesse me odiar mais. 
Eu não sirvo a ninguém. 
Um imprestável, um lixo vivo. 
Se não sou significado a ninguém além de mim, 
Será mesmo que significo algo? 

Ah, solidão. 
Tens me ensinado tanto. 

Eu juro que tento me levantar e sair. 
Mas tudo é bem estranho, 
De repente eu estou irritado, ou triste. 
E só quero sumir. 
Cansado de tanto prolongar essa tristeza, 
As minhas rugas começam a surgir... 

2 de jan. de 2020

Invenção da minha cabeça.

Algo triste.
Uma simples aproximação ao nada. 
Nada faz sentido, e mais, 
Nada nunca fez sentido. 
É tudo inventado, tudo mentira. 
Todos jogando e se maltratando. 
Socorro. Eu não queria morrer. 
Mas é tarde demais.
Eu sou uma morte vivificada.

1 de jan. de 2020

Comunicação

Começa o diálogo,
E o meu esforço pra falar é imenso, 
Preciso pensar cada palavra, 
Tudo o que eu digo machuca.
Eu preciso me controlar. 

Eis que o outro vai responder, 
Sem escrúpulos ele parece, 
A lingua de navalha corta meu coração. 
Ele parece não perceber, 
Ou não ligar. 

Então eu crio mecanismos de defesa, 
Dentre eles o silêncio, 
Porque o meu silêncio é superior, 
Ele não tem o poder de magoar. 

Palavras magoam. 
O meu silêncio é só um vazio, 
Uma ausência que nem parece ser sentida. 
E quando é sentida, 
As palavras vem pra machucar. 
E doem. 

É ambíguo, o silêncio é solitário, 
E a solidão é silenciosa. 
Não há pra que conversar sozinho. 
É melhor aceitar um silêncio sepulcral. 
Do que demonstrar qualquer esforço,
Qualquer afeto, 
Qualquer palavra,
Qualquer gesto. 
Quase ninguém entende, 
E a quem entende, nenhuma falta faz. 

Melhor silenciar-me. 
Do que me sujar de significados.