Musicas

28 de out. de 2018

"Deus está morto"

Avacalha-se o sentir,
O afeto que era verbo,
Vira pronome, vira som,
Deteriora-se no dançar do mundo.
Torna-se insano e cruel,
Vira adjetivo, vira anel.
Muta-se em dinheiro,
Muda de cara, cada vez mais passageiro.
Corta, mutila e amputa,
E tire esse juízo de valor,
Pois não falo só de amor.
Falo de sentir,
De afetar e ser afetado.
Disso que está difuso,
Disso que se faz uso,
Política,
Quando o afeto vira a moeda de troca,
Nossa mente fica oca.
E o coração vira uma bomba de sangue.
Só.
Retornando sempre a questionar...
Por que estamos aqui,
Qual o sentido disso.
Como se alguem tivesse prometido,
Um sentido, uma justificativa.
É preferível adorar essa mentira,
Do que sofrer com as dores do afeto.
É preferível não se deixar marcar.
Para ter sempre postura de mestre,
Um mestre acovardado,
Mesquinho e tolo.
Que se deixa escravizar por uma mentira,
Enquanto o real te agride,
Em busca de uma resistência,
De um ser vivente.
De um sujeito que sente.
O real jamais se traduzirá em meia dúzia de pensamentos.
De frases, de arte.
Bem como os sentimentos,
Desse coração de pedra,
Que você aprendeu a esculpir.
Junto a todos aqueles que temem o sentir.
Mas na calada da noite,
A pedra sangra, o olho escorre.
Pois nada resiste.
A imensurável indiferença do real.
E se tu, animal iludido,
chegar a conclusão de que Deus é o real.
Me diga então por que razão afirma-lo?
Por que não acusar sua morte?
Ainda tem medo de abusar da sorte?
Registro minha provocação,
Nos cantos da mente,
E nas bordas argilosas do coração.
Desses descrentes da vida!
Que esbanjam a palavra amor,
Porém dilaceram os próprios afetos,
Pois parece-me que não tem onde pôr,
Com esse mundo ideal inconsequente.

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