Cigarro

Foi nossa ultima conversa.

Nosso último diálogo. 

Não foi uma briga, 

Mas também não foi declaração. 

Não foi despedida. 

Você não merece adeus. 

Você não merece, nem mesmo, 

O diálogo, 

A chance irresgatavel de contemplar minhas palavras. 

Tua péssima natureza não sabe ouvir. 

É tanta gana, que apressa o tempo. 

Foi nosso último entendimento. 

Eu entendi. 

Ja você, nem em mil anos. 

Nem lhe praguejar eu preciso. 

Tamanha é tua essencia oca.

Que ecoa seus devaneios narcisistas. 

Você não merece adeus. 

Merece um aviso, "na testa". 

Entristecer

O pior de sofrer é sofrer só.

Calado. 

Sem ninguém pra ouvir teu lamento. 

Seu pranto é so teu. 

Molha só a você. 

É triste essa condição humana. 

E é patético desejar algo diferente, 

Somos só. 

O pior da tristeza é senti-la. 

Um aproximação da morte. 

Sentir algo que ninguém nem sequer imagina, 

E não conseguir alcançar a tristeza de outro. 

Só ouvir, contemplar. 

No caso da tristeza, 

Isso, que é normal, 

Vira um pesadelo. 

Isso se viver somente a própria perspectiva. 

Talvez por isso as pessoas se matem. 

Para dar cabo de uma dor profunda, 

De um algo insolucionavel... 

Infelizmente a tristeza te corrói antes de matar. 

Ela é perversa. 

Ela não só mata, ela tortura. 

Ela dói, ela irrita, ela magoa, ela faz sangrar. 

Incoerente

Sou terrivel com isso de amar.

No fluir do mundo, 

Não me contento,  

É a constatação de um grito útil.

É a inflamação das córneas, 

Da cólera que me domina. 

Da que me destrói dentro e fora,

Se é que há algo fora pra destruir. 

É tão vazio, tão vazio... 

Mas não é silencioso. 

É a ferida aberta que sangra ao cutucar.

A que dói. 

E a que eu mais precisava segurar o grito. 

Mesmo que esteja aflito. 

Porque o grito nunca é pra mim. 

Eu preciso olhar pra quem levanto a voz. 

Pra ontem!

Pois hoje só consigo ver como sou incoerente.

Pura Burrice

O problema... 

É que tu, com teus olhos enrijecidos, 

Crê que esse meu corpo seja, 

Dentre muitas coisas, 

Incapaz de amar profundamente. 

E talvez essa seja a questão. 

A tua dúvida é, de fato, 

Se há algum corpo que, 

Nos teus moldes antiquados, 

Saiba te amar além da sua superficie. 

Pois quem tem a alma imunda, 

Com esse julgamento vil, 

É incapaz de pensar profundamente. 

Dói

Ninguém me leva a sério.

Pois sabem que eu sou um covarde. 

Até mesmo eu sei de minha covardia, 

Eu que bem sei da minha falta de audácia. 

Eu que planejo sem executar. 

Tudo ideia, tudo ideia. 

Tudo perambulando pela minha cabeça... 

Até que dia eu vou aguentar? 

Será que amanhã eu vou estar melhor? 

Patético. 

Calada no meu quarto.

Acho que das piores loucuras da minha mente,

A pior é esperar um retorno teu. 

Uma mensagem, na madrugada, 

Dizendo que queria que eu fosse algo na sua vida, 

Contando que foi um dia inteiro pensando em mim, 

Sentindo uma falta de nós que só eu sinto. 

Eu estou esgotado, cansado. 

Preciso recuperar minhas forças e seguir, 

Mas depois de tantos anos... 

Tantos que sinto essa coisa louca, 

Essa loucura que eu não abandono... 

Eu não tenho nada a declarar...

Tudo vem desmoronando aos poucos, 

Novos trincos, novas rachaduras. 

Buracos para eu tampar. 

Fecho a porta do meu quarto, 

E começa um delirio de te amar. 

Amar-te sozinho, sem sequer que tu saiba. 

Sou uma existencia patética. 

Queria saber dos Demônios...

Que é um demônio?

o que é que tanto o ser humano abomina?

porque um demônio nos quer mal diante da vida?

Seria o demônio uma fantasia?

Dessas, sexuais, onde entramos em ecstasy com o sofrer

criamos uma imagem mutilada do mundo

e lhe atribuímos poder, será?

O demônio é uma entidade própria?

Com desejo, vontade e capaz de se entediar?

O que entediaria um demônio?

Que tanta diversão ele encontra em estar entre nós?

Eles são entidades diferentes de nós?

Seriam de um outra forma de existência?

Se é que cabe a palavra "existência"

Estamos todos em delírio coletivo?

Eis que nenhum demônio existe e é tudo humano,

tudo invenção, traição e dominância.

E então, demônios são apenas uma mascara...

dessa nossa natureza repreensível?

que serão os malditos demônios?

será que eles são algo?

devemos temer os demônios?

ou devemos temer quem os invoca?

E o pacto?

Quem é procurado para o pacto?

Por que é procurado para o pacto?

Que é esse maldito pacto?

Que teríamos a oferecer a um demônio?

Seria o demônio um inimigo vencível?

Uma espécie de obstáculo a se superar?

Seria uma figura de linguagem para uma espécie de moral?

Um inimigo comum a politica?

Seria o demônio o lixeiro de Deus?

Para Deus descartar os filhos que, modéstia à parte, pensam por si só...

Para jogar-lhes numa flama eterna?

Qual motivo levaria um demônio a um serviço tão tosco?

E outra, se ele "pune os maus",

e é obediente a Deus, um servo,

o que o torna maldoso?

Outra hipótese é que demônios não estão nem aí.

Onde estão? 

Não estão.

Nem - mesmo - aí.

O Motivo

De tanto ser-me,
e amputar do outro o poder sobre mim,
de ser-me como sou puramente,
sem criar um personagem ideal para idealizarem-me,
ser-me esse ser inadmissível,
as vezes esqueço do motivo de ser-me.
ser a si mesmo dói.
dói porque não existe um papel fictício para esconder nossas mazelas,
não existe um papel puritano para disfarçar ser um depravado,
mostrar ao outro como sou,
e sou assim,
podre.
incoerente.
depravado.
triste.
é fácil esquecer de porque eu gosto de ser-me,
ser-me é doloroso
mas o motivo para ser-me é um só.
é uma garantia, que vale a pena.
a garantia de que o outro tem boas condições de me ler e saber quem sou.
mas não sou por ele, nem jamais seria,
sou egoísta demais para isso.
sou para ele, nele.
na imagem que ele tem de mim, nessa aparência.
e se nessa aparência ele encontra um bom afeto, basta.

De qualquer outro modo,
se eu fingisse ser um ser agraciado, positivo,
virgem e comprometido com ideais que não são os meus,
eu teria que viver na certeza de que o outro não gosta do ser que sou,
mas sim,
do ser que eu inventei pra ele.
e essa dor de saber que o outro ama uma invenção não me basta.

A dor de ser-me é compensada pela tranquilidade de ser-me.
você que gosta de mim, gosta de algo próximo do que eu sou.
você que me ama, ama uma ideia próxima do que sou.
você que me odeia, tem ódio a aquilo que eu lhe apresentei, algo que sou.
e que assim seja:
se relacione com uma ideia mais próxima do que eu seja
a partir de mim, tire suas conclusões.

Não confundir jamais, 
a tranquilidade de ser quem se é com 
a tranquilidade de ser amado facilmente,
quando se escolhe viver sendo-se fiel a si,
percebe-se uma verdade dolorosa:
o amor é escasso e frágil
dá-se mais valor para sentimentos.
esses que brotam em relação,
relação é afeto de mão dupla.
Sei de você com as mesmas ferramentas que você tem
pra saber de mim.
É só esse o motivo.

Desistência

Eu precisava sumir um pouco,

Virar pó. 

Ser esquecido.

Me esquecer de mim. 

Porque revivo muito meus erros, 

E não sei me perdoar. 

Daí eles ficam me artormentando. 

E eu queria mudar, ser outro. 

Mas não dá. 

Então queria sumir uns tempos, 

Pra esquecerem de mim. 

Porque eu creio não ter nada significativo pra lembrar. 

Não ha nada de bom que eu tenha feito

Que qualquer outro pudesse fazer, 

Ler, escrever, estudar. 

Não há nada de eu que seja meu mesmo, 

Que seja valoroso pra se apegar, 

Então melhor que deixem de me recordar, 

Que o tempo passe e deteriore tudo. 

Meus erros, constrangimentos e vergonhas. 

Pois só mesmo o tempo tem tamanha força. 

Mudança

Geralmente,

Quando meu coração parte, 

E eu tenho que esquecer alguém, 

Abandonar qualquer perspectiva, 

Me vem uma sensação incomoda, 

A de que, talvez, 

Eu nunca mais va amar alguém tanto, 

Que um amor como esse não se repetirá. 

É um lamento. 

Isso ocorreu tanto, 

E de formas tão repetidas, 

E repetitivas. 

Mas hoje, 

Ao tentar lidar com a rejeição, 

Ao sofrer para abandonar um sentimento, 

Eu simplesmente me assusto, 

Pensando que, com certeza,

Essa vez foi a mais intensa, 

A mais forte,

E ao invés de ser um lamento essa perda, 

É uma esperança.

Talvez eu tenha dificuldades em mudar. 

Erro reincidente

A gente se magoa,

Porque queremos ser especial pra alguém, 

E quando temos alguém especial pra nós, 

Geralmente isso é desprezado.

Ou ainda... 

Não é dado o devido valor.

Somos traídos pelo afeto. 

O afeto,

que é uma especie de bússola das relações,

falha. Isso dói. 

E seguimos erroneamente errando, 

Como errantes que amam o errar, 

Como burros persistindo no erro, 

De querer, de alguma forma, 

Ser especial pra alguém. 

Na medida em que isso dá certo, bom. 

Na medida em que dá errado, dane-se. 

O importante parece ser tentar. 

Já?

Ja amou muito alguém?

Tipo, tanto... 

Que você se assusta só de lembrar. 

Alguém que nem ligou, nem nada?

E ai você teve que entender, 

Que aquela coisa imensa que tu sentia, 

Era tua. Era você. 

Era a parte de você que precisava morrer. 

Ja amou alguém,

A ponto de não saber mais viver? 

De doer cada segundo sem ela, 

De sofrer a espera pela pessoa, 

Daqui a pouco eu vejo ele... 

Daqui a pouco eu vejo ele... 

Ja amou alguém, 

Por quem tu viveu parte da vida? 

Escolheu o perfume que ele mais gostava, 

Não usou roupas que ela condenava. 

Sem doer, sem constranger. 

Era prazeiroso fazer algo por outro. 

Ja amou alguém... 

Que precisou esquecer? 

... 

Certezas

Tenho certeza

Que qualquer um seria melhor pra ti do que eu, 

Qualquer outro te fará mais feliz. 

No entanto, 

Outra certeza também me assombra, 

A de que nenhum ser humano, 

Em seu estado perfeito de natureza, 

Te daria tanto valor quanto eu. 

Valor, não preço. 

De querer saber de você, 

Te desvendar e devorar aos poucos. 

Saboreando cada fibra desse bicho que tu é. 

Te ouvir, te acompanhar. 

Te olhar... 

Prestar atenção. 

É bizarro quando duas certezas tão fortes

Gritam, repetitivamente:

Deixe-o em paz. 

Largado

O pó indica que algo está parado,

Sem uso há algum tempo, 

Demanda certa atenção, 

O pó causa alergia, 

Deixa as coisas velhas, 

Difíceis de se aproximar, 

Causa irritação. 

O pó é tão poético que dói. 

Demência

Você me obriga a fingir que não ouvi,

Aliás, não você exatamente, 

Mas a ideia de você. 

Por que se eu ouvir, 

A ideia de você vem. 

E pensar em você dói. 

Dói não por ser você, 

Dói por ser uma idealização distante, 

Sem objeto. 

Sem referente. 

Uma ficção em ruinas. 

Arruinada pela realidade de quem sou. 

Então eu não ouvi. 

Não estavam falando de você, 

É melhor fingir demência, 

Do que me deixar sentir qualquer coisa. 

Esse sentimento precisa morrer. 

Precisa passar. 

E há horas que eu me convenço:

Passou, estou bem. 

E é isso, vou tentar me enganar. 

Até me enganar. 

Porque enganação decente é a que engana. 

Declaração Singela

Ja pensou se

Um dia quem sabe

Você perceber que o que você realmente queria

Era ter me beijado quando eu perguntei, 

Se você iria comigo atras do muro 

Daquela festa lotada

Eu sei que no fundo você não se importava

Das fotos que eu tirava escondida, 

Na sala de aula, 

Dos flashs que você me procurava... 

Pra agradecer... Eu sei. 

Pelas fotos... Distraído. 

Do seu cabelo tão lindo, arrumado

Que eu sei que você queria um cafune. 

Vai que um dia você cai na real

E saca que mandou muito mal

De não ter respondido as 90 mensagens que eu mandei

E você ainda não viu, que eu sei. 

Eu não sei por que você é tao desligado, 

Não percebeu ainda, mas tudo bem, 

Eu espero você chegar na sua casa, 

Pra ver o carro de mensagem que eu aluguei

Pra te contar que eu to afim de você, 

E você não percebeu. 

Quase

Quem perdeu foi ele, 

Eu sou inteligente demais pra ele, 

Ele não conseguiu ver meu valor, 

Azar o dele. 

Meus amigos me dizem isso, 

Eles, a minha psicóloga e os meus ouvintes, 

Os que se poem a flertar comigo, 

Todos eles dizem

"como pode alguém recusar você?" 

Sei que isso deve parecer gratificante de se ouvir, 

Mas para mim é um favor, 

Uma mentira que se diz ao perdedor, 

Pra que ele se conforme. 

Talvez alguma tentativa de ajuda, 

Coitados desses que tentam me consolar, 

Eu, espírito intenso e dramático. 

Há algo significativo nesse falso apontamento,

Mesmo sabendo que quem perdeu fui eu, 

De tanto ouvir isso

A cada flerte que passa,

Eu quase me convenço. 

Paixão antiga.

Eu queria ter, denovo,

A energia que tive, 

E a disposição que tive

Que usei com você. 

Você não deu valor, eu sei. 

Ta tudo bem. 

Essas coisas acontecem. 

Eu só queria conseguir me apresentar denovo, 

Pra outra pessoa denovo, 

Que eu ame denovo, 

Que eu tenha disposição de novo, 

Tanto quanto tive com você. 

Parece injusto eu amar outra pessoa menos. 

Sabendo que talvez ela dê valor. 

Mas isso é só uma paranoia, 

Um devaneio depressivo. 

O tempo ja deteriorou meu amor, 

E hoje eu só tenho cacos a declarar. 

Expectativas baixas

É esquisito admirar alguém de longe, ver a pessoa na rua, cumprimentar, saber o nome.

Admirar de longe é assumir que aquela pessoa corresponda a expectativas das quais você nunca vai poder conferir, é quase um ato de fé. Você a admira e pensa coisas sobre ela, tenta prever. Quase sem admitir que nada do que você inventou sobre a admirada é real, isso porque a realidade só existe durante e depois do contato.

Admirar de longe é facil.

Quando você admira alguém próximo, com quem você mantem contato, as suas expectativas são menores, isso por que mais do que esperar do outro, é saber, conhecer o outro, conseguir de fato prever como a pessoa age em certas situações, inclusive taxa-las "y-pessoa é honesto demais pra isso".

Quando alguém te diz "espere menos das pessoas" a ideia parece confusa: se fomos ser proporcionais, esperar menos das pessoas seria afastar-se e manter expectativas baixas, certo? Então... Não, esse parece o equívoco, esperar menos das pessoas é conhecê-las. Daí segue que é necessário aproximar-se e observar habitos, atos, comportamentos que a pessoa lhe mostra pois agora sua expectativa não é mera fantasia, mas sim, um critério baseado em uma relação vivida. 

Escassez

É importante querer existir,

Mesmo na certeza de que, 

A maioria não te quer por perto, 

De que a maioria não sentiria sua falta. 

É um duro aprendizado, 

Mas amor é escassez. 

Amor de verdade, passa e acaba. 

Amor muda. 

Amor destrói a si mesmo. 

Na tentativa de reconstruir-se, 

Na morte. Na sorte. 

Aflição.

Perdi.

Eu perdi as inumeras chances de viver. 

De tanto planejar, excluí. 

De tanto ponderar, amputei. 

Da minha vida sei bem pouco, 

Por que só sei o que vivi. 

Vivi da vida, que vivida passa, 

Mostrando o quanto perco e perderei, 

De tanto pensar, perdi. 

De tanto entender, chorei. 

Frustração

A frustração,

Bem como a felicidade são, 

Em mesma escala, 

Constituintes da vida. 

Não há quem passe por aqui sem frustrar-se, 

E não há quem passe sem uma felicidade sequer. 

Obviamente, há vidas mais felizes, 

E outras mais frustrativas. 

Mas frustração é realização também.

Isso porque ela surge de uma realidade. 

Frustração é vida realizada. 

Sinal de vida vivida. 

Pessoas intensas reagindo a rejeição

É bem triste ter que lidar com uma rejeição. É triste por que há esforço anterior para estabelecer uma relação, um esforço que transforma: o desejo é capaz de nos fazer mudar coisas que não suspeitavamos serem passíveis de mudança, ficamos mais tolerantes, mais mansos, mais receptivos.

Há diversos obstáculos para lidar. 

Um deles é a pergunta "por que eu gosto dessa pessoa?" e, quase sempre, a resposta é "por nada". Ocorre assim porque o desejo se impõe, não é algo deliberado, a pessoa simplesmente te agrada e não há alguma razão, motivo ou circunstância que justifique o seu sentimento, pensar na razão do sentimento é inverter sua capacidade: usamos a razão pra lidar com os sentimentos, logo, sentimento é primario, aparece sempre em primeiro lugar, com primazia. Sinto e depois penso no que senti. Pedir pensamento por trás de sentimento é mera tortura. 

Outro obstáculo é o tempo. Relações demandam tempo, atenção, respeito e sem dúvida, disposição. É doloroso ver que sua disposição não é valorizada por outra pessoa. Isso é realmente triste, pois valor é uma coisa que o outro aprendeu a colocar no mundo, bem como eu e voce também aprendemos, mas aqui cabe a singularidade: eu valorizo o silêncio toda manhã, há pessoas que amanhecem cantando. Nesse quisito, a rejeição pode apresentar-se simplesmente como dor, porque por algum motivo que não é claro nem para o outro, ele não vê em você algo que ele consiga atribuir valor. Seja esse valor o que for.

Aqui cabe mais um problema, o valor. Valor é problema por que embora valor seja dado singularmente, há muito de ensinado no valor, e por esse motivo, sabemos exatamente quais corpos tem alto valor estético, sabemos quais pessoas tem alto valor monetário, valor intelectual e por aí caminhamos, uma sociedade que ensina-nos a adorar o futil, e a triste constatação:aprendemos. 

Bem, tudo isso pode aparecer de forma berrante numa rejeição, tudo isso pode aparecer como uma enorme força: "o problema é você." 

Ja que o problema é você, os devaneios não são agradáveis, primeiro por que não é possível fazer aquietar o desejo. Então recorremos a políticas que também são dolorosas: afastar-se, deixar de lado, desistir. Tudo isso para dar cabo de um problema: você.

É a nossa vaidade que está ferida durante a rejeição. A pessoa que rejeita conhece essa dor, ela com certeza ja passou por isso. E é justamente aqui que o mundo aparece como injusto.

Diante disso cabe apenas a politica do deixar pra lá, esquecer. Pois o desejo não será consumado, a pessoa não te quer.

Não se prepare pra um relacionamento que não vai existir.

Se prepare pra enfrentar a dor da perda de uma pessoa querida e uma serie de auto questionamentos sobre sua vaidade e autoestima. 

Ganância

A noite grita.

Aquilo que todo mundo quer dizer, 

Mas não sabe como. 

O medo da morte, 

A solidão de ser-se. 

Ainda que o silêncio seja acalmante, 

A mente é medonha, 

Será que a mente mente? 

Ou falha, cuja falha é pensar alem do que se sente. 

Além do que permitimos, 

Fazemos, achamos.

A insegurança nos visita a noite, 

Ela aponta, distorce e retorce. 

Bombardeia suas ideias. 

E você não tem escolha. 

A unica saída é assombrar-se nas ideias, 

Que tantos dizem brilhar. 

Lamentar. 

O tempo mostra sua violência. 

Talvez não sangre hoje, 

Mas é como um despertador pra quem tem sono. 

Sempre um retrogosto... 

"quero mais" 

Fortuna.

As vezes só não dá.

Parece que você esta no lugar errado, 

Nada encaixa, nada fica. 

Tudo se destrói. 

Não há nada a sentir, 

Mas não é que você esteja errado, 

Só não deu. 

Não se entristeça por não ter sorte. 

Não deu, não conte com a fortuna. 

Azar não é sinônimo de tristeza. 

Eu sinto muito que sejam ondas fortes de azar, 

Mas não conte com a sorte. 

Também não cobice a sorte alheia, 

A sorte alheia talvez seja maldição velada, 

Se eles não veem, não sentem. 

Não há nada de errado em ser deslocado, 

Sozinho se é sempre. 

Se você não deu sorte de acompanhar alguém, 

Aproveite sua solidão. 

Há quem sofra de péssimas companhias. 

Paixão estranha.

Eu só queria ser... 

Em você. 

Aquilo que você 

É para mim. 

Eu queria ser você em mim, para você. 

Autoestima

Deve ser legal ter autoestima, olhar pra si mesmo e ver uma pessoa bem quista, agradável, bonita. Mas é muito dificil criar uma boa imagem de si mesmo quando você se sente um fardo. Algo próximo a um verme, que as pessoas querem se afastar por que sabem o quao perigoso você pode ser.

É horrível a sensação de que todos estão reclamando de você, do seu jeito, dos seus gostos, da sua aparencia, dos seus afetos.

Cansativo mesmo é a sensação de que você nunca vai resolver isso, são anos e anos tentando construir uma boa relação com a própria imagem e fracassar miseravelmente. 

Costuma-se encontrar pessoas que nos dizem "ah não fala assim de você, você é tão..." sei la, na tentativa de te fazer sentir melhor. 

É de dar dó. 

Perceber o quão espirito pequeno é. 

Por que uma pessoa tenta corrigir uma imagem que ela tem de você que você não tem, não consegue ter, nunca teve e nem consegue acreditar. É tão forte, que saber se a pessoa está sendo sincera ou não nem faz diferença, é ela que ve isso, não eu mesmo. 

Esse é o problema da autoestima, ela é minha, tem a ver com o que eu sinto comigo, não com o que pensam de mim, mas, de alguma forma, parece que o que pensam de mim exerce certa influencia em como ela se mostra. É complexo. 

É tão bizarro, que mesmo não tendo uma boa autoestima, você percebe o que a falta dela faz. Onde ela destrói, e mesmo percebendo você não consegue resolver. 

Enfim, deve ser bom ter uma boa autoestima. 

Terapia

A rotina massacra.

Qualquer uma delas. 

Rotina ensina hábito. 

E hábito vira tempo pra pensar. 

E pensar... 

Dói. 

Dói conseguir fazer diagnósticos precisos, 

Sobre relações, dúvidas, afetos. 

E nem sempre é dramático, 

Por que nem sempre há vítimas. 

Mas sempre há algo a melhorar, 

Sempre um desejo de que o mundo mude, 

Seja algo melhor do que é. 

E de tanto deseja-lo melhor, 

Ele mesmo apodrece diante da nossa percepção. 

Pensar cansa. 

Pensar bem não vira hábito. 

Porque pensar não te deixa parado. 

Todo pensamento bem produzido é inquieto. 

Move. 

Machuca. 

Destrói. 

Entende.

Compreende. 

Transforma. 

Muda.

Diagnóstico

Eu sou uma alma triste,

O vento que bate em meu rosto não me alivia, 

Meu olhar descontraído é perdição. 

Eu nem ouço o que dizem. 

Me pergunto por que tão errado? 

Eu sou uma alma triste. 

Triste pois de tanto ver coisas erradas,

Constato: sou fraco e não consigo mudar nada. 

Faço pouca diferença. 

Fraco, me junto a outros. 

Pra ser reativo, moralista, implicante. 

Pois queria um mundo mais justo. 

A pena é ver que esse mundo é ideia. 

Então o vento me passa e me traz lucidez. 

De que talvez ele seja a única coisa leve. 

O resto pesa. 

Falsas amizades, falsas declarações. 

Mentiras fortes e abundantes,

É doloroso saber de forma nítida o que é falso. 

Mas sobre o que é de fato, 

Só uma breve ideia, 

Um esboço mal traçado...

De verdades raras, escapadiças.

Sou uma alma triste, 

Pois as felizes abusam de mim. 

Pois as ricas me exploram. 

Pois as bonitas debocham. 

Pois as sábias me diminuem. 

Pois as amantes me desprezam. 

Eu, alma triste,

Estou fadado a conviver com almas tristes.

Que toleram minhas idiossincrasias. 

Minha depressão, minhas síndromes, 

Minhas paranoias. 

Pois nem a saúde se salvou. 

"muito bem: dai-me teu tormento."

Revolta.

Tenho a nítida impressão de que

Tudo o que sentimos é lixo. 

Descartável, e as vezes nojento. 

Mas que essa afirmação assusta. 

Então tentamos convencer o outro que não,

Embora o mundo não cesse, 

Em nenhum segundo sequer, 

De fazer com que engulamos nossos afetos. 

A gente tenta convencer o outro, 

Mas não consegue mentir pra si mesmo. 

É tudo um jogo imbecil. 

Com regras tristes. 

Cor da pele, sangue, formato, 

Genitalia, genitalia, genitalia. 

É um mundo insano. 

A gente nem quer saber de ninguém.

Só desse buraco impreenchivel. 

De um amor rico, de um amor valoroso. 

Mas que é um lixo. 

Algo completamente asqueiroso. 

Mas ainda tentamos convencer o outro, 

Pois a nossa desgraça não é o suficiente, 

Não nos abalamos pela evidência. 

A vida segue de um jogo triste. 

Um jogo de verdades. 

De ilusões, de ficções, de faxadas, 

De erros!

Nós somos o animal asqueiroso, 

Querendo feder a divindade. 

Não se sabe nem o que é amor, 

Sabemos o que é dinheiro. 

Sabemos o que é privilégio. 

Se dar bem, se dar bem. 

Humanos desgraçados. 

Espelho

Ele berra pra mim,

Ele briga comigo. 

Aponta onde dói. 

Delírio.

Já é noite,

Eu não quero dormir. 

Eu lembro dele, 

E de todo o meu amor, 

Sentido apenas por mim, 

O seu toque e seu coração. 

Como dói. 

Ser abandonado pelo seu amor não correspondido. 

Mas é a calada da noite que berra as maiores poesias. 

Grita desesperada por atenção. 

Eu não sei o que fazer sem ele. 

Eu sinto falta de seu olhar, 

De seus resmugos a noite. 

Eu terei que conviver com isso. 

Eu terei que conviver com isso. 

Conviver com isso. 

Eu. 

Eu sei, 

É egoísmo demais apontar meu coração partido. 

Me fechar num sentimento sem sentido algum. 

Mas quem foi o imbecil que disse que eu controlo isso? 

Ele era o meu mundo inteiro. 

Meu norte, meu objetivo. 

E é algo difícil de abandonar. 

Pensar nisso como uma paixão qualquer. 

Um delírio da meia-noite. 

Meu novo bicho papão. 

Minha nova assombração.

E eu... 

Eu terei que conviver com isso. 

Surto

As minhas rugas começam a surgir,

E eu começo a me tocar, 

Que eu ja não tenho esperanças. 

Talvez eu ja tivesse entendido, 

Mas não queria aceitar. 

Sou metade narcisista, 

Metade paranoia. 

Desconfio dos outros. 

Confio demais em mim. 

E é melhor que seja assim. 

Eu tentei entregar meu coração, 

E sempre me decepcionei. 

Eu simplesmente desisti de me decepcionar. 

Mas hoje eu me frustro, 

Por que eu me lembro do doce sabor, 

Que é sentir algo por alguém. 

É uma saudade que dá vontade de gritar. 

Mas minha vaidade jamais se curvará a ninguém. 

Eu sou mais que tudo isso. 

Mais que essa cabeça neurótica. 

Talvez eu devesse me odiar mais. 

Eu não sirvo a ninguém. 

Um imprestável, um lixo vivo. 

Se não sou significado a ninguém além de mim, 

Será mesmo que significo algo? 

Ah, solidão. 

Tens me ensinado tanto. 

Eu juro que tento me levantar e sair. 

Mas tudo é bem estranho, 

De repente eu estou irritado, ou triste. 

E só quero sumir. 

Cansado de tanto prolongar essa tristeza, 

As minhas rugas começam a surgir... 

Invenção da minha cabeça.

Algo triste.

Uma simples aproximação ao nada. 

Nada faz sentido, e mais, 

Nada nunca fez sentido. 

É tudo inventado, tudo mentira. 

Todos jogando e se maltratando. 

Socorro. Eu não queria morrer. 

Mas é tarde demais.

Eu sou uma morte vivificada.

Comunicação

Começa o diálogo,

E o meu esforço pra falar é imenso, 

Preciso pensar cada palavra, 

Tudo o que eu digo machuca.

Eu preciso me controlar. 

Eis que o outro vai responder, 

Sem escrúpulos ele parece, 

A lingua de navalha corta meu coração. 

Ele parece não perceber, 

Ou não ligar. 

Então eu crio mecanismos de defesa, 

Dentre eles o silêncio, 

Porque o meu silêncio é superior, 

Ele não tem o poder de magoar. 

Palavras magoam. 

O meu silêncio é só um vazio, 

Uma ausência que nem parece ser sentida. 

E quando é sentida, 

As palavras vem pra machucar. 

E doem. 

É ambíguo, o silêncio é solitário, 

E a solidão é silenciosa. 

Não há pra que conversar sozinho. 

É melhor aceitar um silêncio sepulcral. 

Do que demonstrar qualquer esforço,

Qualquer afeto, 

Qualquer palavra,

Qualquer gesto. 

Quase ninguém entende, 

E a quem entende, nenhuma falta faz. 

Melhor silenciar-me. 

Do que me sujar de significados.