Hipérbole

A chama da troca se apaga,
Fica escuro, ouço máquinas rodarem.
A luz de uma tela bate em meu olho,
Incomoda, mas não tanto.
Deitado abaixo de mantas frias,
Que não tem história pra contar...
É tudo apagado, caindo aos pedaços.
Fica turvo, aglutina e dói.

Eu viro de lado e ouço um barulho,
Depois minhas costas parecem relaxar,
Começo a prestar atenção no inflar do peito,
Fecho os olhos...
Os pulsos custam a parar.
Viver sem ter contado nada...
Números...
Fico aflito.

Quem é esse que narra a história?
Esse projeto que nada viveu.
Essa vida que só é uma vez,
Pra um corpo,
Jamais será narrada por outro,
E assim, me conheço desconhecendo-me
Narrando para o outro que conhece-me, também para com o corpo que ele jamais encontrou.
São memórias, narrativas, discursos.

Que acontece quando esse corpo fala?
Que tipo de atividade é essa?
E que importância tem a sobrevivência?
Como símbolos conseguem se articular e doer.
Mesmo co-dependendo de algo físico.
Bem, há quem ache que são números.

Ânsia

Olá,
Caro visitante desse mundo,
Que vive a vida,
Desejando que o amanhã chegue mais rápido.
Que o quinto dia útil venha logo,
Que você encontre aquela pessoa...
Sei lá, semana que vem...
Você que anseia a realidade,
Eu sei que anseia,
Pois você demonstra amor por mim a todo tempo.
Julgando o que vale o tempo,
Perdendo tempo, ganhando tempo.
Você não cansa de declarar amor por mim,
Não vê a hora do trabalho acabar,
Não vê a hora...
Ah, você é completamente apaixonado por mim,
Eu o diria pra não se fascinar comigo,
Mas parece que você não resiste,
Fique tranquilo.
E eu irei retribuir esse seu sentimento.
Afinal,
Eu sou o tempo que você deseja que se acelere,
Eu sou a tão famosa morte que se aproxima...
Nosso encontro será inevitável.

Apresente-se, Gênio do mal.

Eu confiei nele,
De forma a desistir do que queria,
Em troca dele,
Deixei de apreciar o que desejava.

Tento diminuir meus desejos,
Em prol dessa confiança absurda,
De que a lâmpada esfregada, fica limpa.

Pode polir a vontade.
Pois ele não realizará seus desejos.
Ele estará sempre em sua frente,
Esperando o momento perfeito pra te matar.

Saiba bem, está lidando com um assasino.
Esse gênio jamais se curvará a seus desejos.
Você é estupido demais pra compreendê-lo.
Vá, tolo.
Acredite nas falsas promessas,
De um mundo sem faltas.
Com luxos e fartura.

Muahahahahhahaha

Esfregará essa lampada por todo tempo.
E jamais alcançará eternidade alguma.

Sem arrependimento algum

São tempos de visões turvas.
Marcadas na loucura cotidiana.
Nesse mundo, sempre inédito.

Chamo-lhe atenção,
Pois você pensa que enlouqueci.
Que eu irei me curar,
Me arrepender,
Pois bem.

Sei ser bem o diabo,
Atrás da porta,
perturbando o sossego de valores,
Impedindo traduzir a vida em discurso.
Discursos solitários.

Eu sei incomodar como demônio,
E amo como Deus que sou.
Mas o juízo é você quem faz.
Pois eu...
Eu enlouqueci.
E não me arrependo disso.

Tempos Satânicos

E eis que a dificuldade se apresenta,
De forma clara e evidente,
E aqui não podemos temer,
Nem desejar um mundo diferente deste,
Pois este é o que se apresenta.
Para se reconciliar,
O que fazer então?
Tomar as redias do mundo,
Entender as dificuldades,
Para supera-las,
Pois o mundo não cederá aos desejos,
Bem vindos e vindas,
A essa época sombria,
Não a tema, nem crie esperanças.
Enfrente-a.
Enfrente tomado de uma estratégia,
De um modo novo de viver.
Estamos diante de um obstáculo,
É a chance de supera-lo.

"Deus está morto"

Avacalha-se o sentir,
O afeto que era verbo,
Vira pronome, vira som,
Deteriora-se no dançar do mundo.
Torna-se insano e cruel,
Vira adjetivo, vira anel.
Muta-se em dinheiro,
Muda de cara, cada vez mais passageiro.
Corta, mutila e amputa,
E tire esse juízo de valor,
Pois não falo só de amor.
Falo de sentir,
De afetar e ser afetado.
Disso que está difuso,
Disso que se faz uso,
Política,
Quando o afeto vira a moeda de troca,
Nossa mente fica oca.
E o coração vira uma bomba de sangue.
Só.
Retornando sempre a questionar...
Por que estamos aqui,
Qual o sentido disso.
Como se alguem tivesse prometido,
Um sentido, uma justificativa.
É preferível adorar essa mentira,
Do que sofrer com as dores do afeto.
É preferível não se deixar marcar.
Para ter sempre postura de mestre,
Um mestre acovardado,
Mesquinho e tolo.
Que se deixa escravizar por uma mentira,
Enquanto o real te agride,
Em busca de uma resistência,
De um ser vivente.
De um sujeito que sente.
O real jamais se traduzirá em meia dúzia de pensamentos.
De frases, de arte.
Bem como os sentimentos,
Desse coração de pedra,
Que você aprendeu a esculpir.
Junto a todos aqueles que temem o sentir.
Mas na calada da noite,
A pedra sangra, o olho escorre.
Pois nada resiste.
A imensurável indiferença do real.
E se tu, animal iludido,
chegar a conclusão de que Deus é o real.
Me diga então por que razão afirma-lo?
Por que não acusar sua morte?
Ainda tem medo de abusar da sorte?
Registro minha provocação,
Nos cantos da mente,
E nas bordas argilosas do coração.
Desses descrentes da vida!
Que esbanjam a palavra amor,
Porém dilaceram os próprios afetos,
Pois parece-me que não tem onde pôr,
Com esse mundo ideal inconsequente.

Dores da Alma

Ja estive aqui,
Repetitivamente,
Eu nem sei mais por que,
Nem lembro se havia um motivo.
No meio de humanos,
De seres que se julgam vivos,
Mas estão mortos em sua percepção.
Todos presos a seu mundinho,
Um filme assistido,
Isolado.
Solitário.
Triste.
Medonho.
Nem sequer se percebem parte de um todo,
Se fragmentam, tentam-se dominar.
É tanta mediocridade,
Que eu adoraria sair daqui...

Mas...

Já estive aqui,
Repetitivamente,
Eu nem sei mais por que,
Nem lembro se havia um motivo.

Amor Saudosista

Eu queria saber,
Se alguém ja amou alguém como eu,
Um amor solitário,
Saudosista,
As vezes dói, as vezes encanta.
Dói pois não há escape,
Encanta por que preenche.

Eu queria saber disso,
Pois amor não se faz na esquina,
Em romances vazios,
Forjados e forçados,
Troca de valores e nem nada do tipo.

Amor se faz de encontros,
De vislumbres e insights,
Momentâneo, sai na urina,
Mas tende a ter uma rotina,
Um momento de suspiro,
Um olhar perdido,
E um silêncio confortavel.

É um simples momento,
Porem difícil de se notar,
De se conservar,
É preciso treinar-se para amar.
Por que de desejos e expectativas,
Medos, esperanças e temores,
O vazio se faz cada vez mais cheio.

A morte de cada dia

Hoje eu estava pensando sobre uma frase que ouvi uma vez: quando você entra em um relacionamento você corre sério risco de morte.
Até ontem eu achava que isso era valido apenas pra relacionamentos afetivos, onde rola ciúmes, traição, briga, coisas que te diminuem de forma a te diminuir a resistência contra o mundo.
Hoje tive um insight e percebi que está pra qualquer camada de relação, quanto mais próximo você está de alguém, mais grave é o risco, se relacionar é arriscar-se de tal forma a jogar com a sua vida conforme o mundo se mostra.
Fico pensando que as vezes os valores são tão complexos que escolher entre eles realmente, as vezes, é escolher entre a vida e a morte.
É óbvio que morremos a cada segundo e que o mundo nos matará, mas levando em conta que cada pessoa pode ser um mundo diferente, a capacidade destrutiva de qualquer relação é devastadora.
Pode ser que um desconhecido te faça uma pergunta extremamente dolorosa, não por maldade, mas só por não saber quem você, talvez perguntar se alguém próximo morreu, ou alguma outra coisa com a qual você se identifique e se entristeça.
Um familiar pode falar algo de outro de forma que a sua convivência com alguém seja comprometida. Um amigo pode surgir e dizer que vai pra muito longe.
Tudo isso é morte, isso é capaz de te matar, de te tirar dias, semanas, meses ou anos de vida vivida.
A questão é a sua resistência, e caso não tenha ficado claro, a ideia é exatamente: quantas pancadas você aguenta até morrer? Até infartar? Até ter um derrame? Ou algo mais bruto, até levar um tiro, até levar uma facada?
Sabe, agressões não são exclusivamente físicas. As simbolicas matam tanto quanto essas.

Entulho

Coração cheio de entulho,
De coisas que nunca precisei,
Eu sei que devia jogar fora,
Quero e tento jogar.
Mas a memória forte não deixa escapar.
Memorias sinistras,
Que me mostram quão vazio eu sou,
Que me fazem lembrar
Minha Insignificância,
Minhas dores, meus traumas,
E desses eu ja cansei de fugir.

Quando ela vem

Um mesmo pensamento se repete incessantemente e não importa no que eu pense eu não consigo parar, foi aquela discussão, aquela briga, aquela vez que berraram comigo, e também a impossibilidade de escapar da morte.
Você está bem. Leu isso em menos de 5 segundos. Pense em como seria sua vida se você passasse uma noite inteira sem conseguir pensar em outra coisa, como se você estivesse realmente estivesse revivendo tudo, e pensando inúmeras mortes, seja bem vindo a uma crise depressiva, nem sempre esse pensamento sobre a morte vem, mas quando vem, são as piores crises, sim, não são todas iguais.
As vezes foi algo que aconteceu no dia, e que você ja pensou 500 vezes em como poderia ser diferente, você sente culpa, não consegue dormir, começa a tremer de nervoso e quer, com todas as forças, parar de pensar nisso.
As vezes eu tenho a impressão que alguém que eu gosto está bravo comigo, sem razão alguma, e me sinto mal com isso.
As vezes,  eu me enxergo como um parasita de todas as pessoas que conheço e tenho a certeza de que todas elas estariam melhores se eu não existisse.
Pra além, as vezes eu penso que sentir é pior coisa que eu faço, eu gostaria muito de não sentir nada e, as vezes, não sinto.
As vezes, e muitas vezes, é um vazio tão doloroso, mas tão doloroso que eu não consigo descrever.
Junto a esses pensamentos uma indisposição tremenda, é ruim até ficar em lugar claro, barulhento, falar, comer, tudo isso é incômodo.
Passar uma noite inteira mal conseguindo se mexer, sem conseguir parar de pensar em uma coisa, que incomoda, que machuca, e pensar que pedir ajuda também é incomodar e por incomodar, vai piorar.
Ah, e deixar bem claro, muitas vezes se esforçar pra não deixar que outras pessoas percebam que não estou concentrado no que elas estão falando, pois minha cabeça não consegue processar as palavras que elas estão dizendo, pois sei la.
Percebe? Não é algo fácil de lidar, não é algo que se controla, não é só energia negativa, é físico, dói de verdade.
Escrevi durante um pensamento repetitivo, estou exausto, escrever me ajuda de alguma forma, não resolve, mas ajuda.
Ajuda por que tenho que me concentrar pra escrever, mas continuo pensando, com dor, insônia e sabendo que terei que sair de casa daqui duas horas.
Algo que me ajuda é tentar me convencer de que todo mundo se sente assim. Parece bobo, mas me faz sentir menos sozinho.
Eu quero dormir.
Na verdade, nesses momentos a única coisa que eu quero é dormir. Se possível, não acordar.
Acordar é ruim. Acordar é a pior sensação de todas. Não sei se quero publicar isso

Controle

Cansados de tantas sanções,
Corpos moídos pela tristeza alheia
Caem no choro.
Sabem bem que não são motivos seus,
De seu, nada pode ser sentido.
Estraçalhados pelas coibições
As advertências fazem tremer o âmago.

Aprenda a desejar direto,
Pense para desejar,
Pois a naturalidade de seus desejos
Serão alvo do mais perfurante ataque.
Para perfurar seu espírito.
Sua alma sem valor.

Mate-se aos poucos,
Besta imunda.
Mate sua vida na medida em que não age.
Morra de tanto sentir.

E alegre-se,
Quando alguém afirmar que a vida é bela.
Caso contrário,
A surra é pior.

Gorfo

Eu faço qualquer coisa,
Pra evitar tentar qualquer coisa,
Tento me convencer de que
Um dia olharei pro presente
Como olho pro passado.

Me vejo num futuro isolado,
Cansado de tanto exigir força.

Não me apegar a nada,
Me entender como grande vazio,
E não tentar me preencher.

Não sei me posicionar,
Ja não sei quem eu sou,
Ou, que um dia eu desejei,
É tudo borrado, rápido demais.

Situações várias
Quizera não ter passado uma vez,
Pois uma fora suficiente.

Cada frase que ouço,
Os pedidos de ajuda,
Os discursos dezesperados,
E a minha impotência em ajudar.

Uma sucessão de agressões initerruptas,
Que deformam e, cada dia mais, perto de nos matar.

Vazio

Andei procurando fora,
Algo que só encontrarei dentro,
Dentro de mim, vazio,
Fora de mim, vazio,
Talvez eu seja mais parecido do que imagino,
Vazio de sentido,
Vazio de valor.

Procurei valorar o mundo,
O mundo me devolve pedras,
Tentei valoras as pedras,
O mundo me apedrejou,
Continuarei tentando,
Até que o mundo me mate.

Pois sou humano vazio,
E uma vez vazio, quero preencher,
E visto que não ha nada,
Só resta a dor e sofrimento,
Desse mundo de almas vazias.

Aquela voz antes de dormir.

Tudo que se passa na sua cabeça,
É artimanha pra te convencer.
Te enganar, te iludir...
Pra deixar você no caminho do amor,
Não permita essa catástrofe.
Tenha força de vontade!
Pra ter essa vida sem graça
Pela qual você se dedicou.
Você sabe muito bem
Que é covarde demais pra amar a qualquer um.
Inclusive você mesmo.

Sacrifício

É melhor que doa,
Que faça eu repensar bastante,
De me ver isolado,
Cercado pelas barreiras que,
Com muito orgulho,
Construí.
Meu orgulho que me protege e destrói,
Que sacrifica.
Transforma e deforma.
Transmuta.
A nostálgica dor que costumada...
Raramente afeta.
Portanto,
É melhor que doa,
Por que as vezes esqueço de viver.

Mais uma noite de insônia

Eu sequer cogitaria conviver com isso caso houvesse escolha, eu aprendi a cumprir tudo no automático, isso por que não sei o motivo pelo qual cumpro minhas responsabilidades.
Eu ja nem sei pra quem pedir ajuda, os mais próximos ja sabem o que está acontecendo e não estou desmerecendo ninguém com isso, só estou cansado de ser repetitivo.
Na maioria dos dias está tudo bem até que algum pequeno fracasso faz um verdadeiro estardalhaço na cabeça, vazio, medo, angústia, dor... Parece que mesmo com o tempo não é possível se acostumar com tudo isso. É possível sentir o desânimo e a dificuldade de ficar em pé se aproximando, você tenta dormir e pronto. A crise vem. Por que você não consegue dormir, e a única coisa que você realmente quer é conseguir que esse momento acabe.
E como é incomodo lembrar de ouvir outras pessoas falando pra agradecer a Deus, ser mais otimista, ou qualquer coisa desse gênero. Só consigo pensar o quanto quero que parem de me tratar feito idiota, isso na verdade só torna tudo muito pior, isso bem pessoalmente, é como se a pessoa dissesse: não conte comigo, peça a outra entidade.
É complicado, você ver a teia de emoções que você se colocou, entender a paranoia por completo, porém, não conseguir sair dela, ela se torna a sua vida.
E bem, aqui vai mais um relato de uma crise depressiva.

Do fundo do peito

Dói.
E dói indescritivelmente,
Dá vontade de fugir,
É a pior sensação,
A mais triste,
Solitária, uma aflição sem nome.
Mas não é algo que se pode falar,
Não te deixam tocar no assunto,
É sufocante.

Silêncio.

Estou triste.
Estou triste pois vida não sinto,
Ouço murmúrios alheios,
E fico refletindo,
Eu tento ajudar, eu tento falar,
E isso não me chateia,
O que me chateia de fato,
É como é tudo ingrato,
Pedem-me silêncio,
Quando é a minha vez de chorar.

Spellbound

Alguns chamam de maldição,
Outros de Destino,
Pois quando temos a chance de escolher...
É uma ilusão.
Pode berrar,
Esmurrar as paredes,
Você está preso como um ventríloco.
Se debatendo com as paredes,
E o eco lhe diz cada vez mais alto...
Você não tem escolha.
Amaldiçoado está.
E não se esqueça de dizer que é livre
para as pessoas que dizem o contrário...
Quando você acha que escapou...
É uma ilusão.
Você não tem escolha.
Estamos enfeitiçados.
Maldição
Maldição
Você não tem escolha.

Sobre pedir conselhos

Existe uma forma de demonstrar afeto que parte da tristeza, e isso pode não te soar estranho, mas de certa forma parece estranho que a tristeza e o amor possam coexistir.
A questão é simples: para quem você pede conselhos quando está triste? Caso isso não te faça muito sentido, pois para a maioria das pessoas pedir conselhos é coisa de gente fraca, esse texto é pra mostrar o lado contrário dessa moeda.
Quando pedimos conselhos a outra pessoa estamos demonstrando respeito e confiança, porém nem todos os conselhos que pedimos tem a ver com dores, mágoas e tristezas, digo isso, por que quando tem a ver com nossas dores, estamos demonstrando também que, de certa forma, confiamos a nossa potência de agir no outro, quer dizer que: acreditamos que essa pessoa para qual pedimos conselhos pode ajudar a nos alegrar.
Embora pareça que pedir um conselho pareça usar uma pessoa, isso é, tornar a relação útil, não é bem por aí, aliás é exatamente por parecer tanto que isso se torna argumento pra dizer que pedir conselhos é coisa de gente fraca.
Pedir conselhos a outra pessoa é reconhecer que a outra pessoa tem valor em si mesmo, e por isso, é um ato de amor completamente inútil. E que valor é esse que você reconhece? Bem, acredito que varios, primeiramente acho que o mais berdante é que você sente que a pessoa é confiavel e para isso, a pessoa lhe apresenta um valor de transparência: um valor que é dela propria e que você a reafirma quando a pede conselhos.
Por fim, quando pedimos conselhos a alguém, há uma parte subentendida: eu o amo tanto que compartilho a minha existência contigo, isso por que eu tenho a plena convicção de que ao fazer isso a minha vida será melhor, pois, acabo de ver em você algo que valorizo tanto que, sem isso, minha vida seria menor. Ou, se você preferir: eu sei que você não tem nada a ver com isso, e é justamente por isso que eu pedirei o conselho pra você. (Será que você, leitor, percebeu que essa frase não é tão fria quanto parece?)

Força

Está difícil...
Gelado, frio.
Fora de controle.
Por que será que não sangra?
Estou a beira da morte,
E nunca estive tão vivo.

De onde eu explico,
De onde eu tiro força,
Bem que eu gostaria de saber.

Ânsia

A questão de fato,
É que ja não sei,
Não sei a quem pedir socorro,
Eu estou ficando louco,
Eu estou morrendo,
Eu estou aflito.
E nem sei o motivo.

Eu estou louco a ponto incompreensível,
Morto estou,
E não há um unico ser que perceba,
Minha ansia de reencarnar.

Olhares risonhos.

Me preocupo com os que riem,
As risadas mostram o limite do intelecto alheio,
Algo escapa, gera estranhamento,
E aí... O riso...
Mas eu perdoo os que riem.
Pois eles não passam de idiotas.

Aquela entidade maldita.

Teu olhar sombrio,
Sobrancelhas caídas,
Que repousam mas levantam...
No menor estímulo,
Disfarçam bem.
Realmente parece que há algo...
Algo de vivo em ti.

Algo em seus olhos,
Algo em seu silêncio,
Algo que você gostaria que outros notassem,
Mas essa demora lhe mata,
E talvez ninguém o entenderia.

Admita,
Você é um ponto fora da curva,
Um pedinte, um suplicador,
Mas você escolheu alvo menos responsivo,
Deus não era expectativa suficiente.
Você quer provar sua força,
Mas você conta nos dedos.

É mesmo de admirar,
Mais do que chocar na forma,
Você quer bater na essência.
E pra isso...
Vende sua alma,
Para entidade pior que o próprio demonio,
Pior que Deus.

Ah, seu castigo será severo,
Pois seu erro não será perdoado por ninguém.
Mas talvez você nem se importe, não é mesmo...
Você já morreu a muito tempo.

Devaneios de uma noite chuvosa.

Há dias em que eu não existo, dias em que estou sozinho em casa, não falo com ninguém e ninguém fala comigo, é forçoso admitir que o mundo funcionaria muito bem sem mim, pra muitos, isso deve ferir a alma, essa conclusão no entanto, me acalma, tira dos meus ombros o peso do mundo, nos dias em que não existo minha insignificância aparece diante dos meus olhos, e isso é bom, nesses dias em específico, mal tenho que lidar comigo mesmo, pouco tenho que fazer no campo simbolico de existência e isso faz de mim o animal que sou: comer, defecar e dormir.
Isso me leva a concluir também que no geral as pessoas se incomodam com sua própria animalidade, esse tipo de coisa enfadonha que assusta, eu não sei dizer o motivo, se eu que sou contra-mão ou alguma outra coisa, só sei que gosto de viver tal como o animal que sou.
Quando volto a existir, vem o peso do mundo e todo calculo moral, mas também está tudo bem, aqui me encanto não mais comigo, mas com os outros...

Karma

Anseio.
Que será que há?
Será que não vejo?

Sinto as costas arrepiarem,
Olhar aflito,
O peito galopa,
Ouço pouco.

Não posso dizer uma palavra,
Não posso ousar uma só vibração,
Tudo cai,
Desmorona.
E se desfaz diante de meus olhos.

Restou-me a destruição,
Pois bem, para que haja luz,
É preciso escuridão.

Ah, velha alma pagã,
Quantas vezes reencarnaste?
Pois lhe agradeço, Deusa.
Por adiar nosso encontro.

Sexo Oral

Ah cara,
Pare de me chupar,
Não vai dar,
O vapor do café me excita mais,
O cheiro me da prazer.

Sinceramente,
Nem sei onde você deve tocar,
Nada se compara ao prazer do café,
Então desista.

Senta aí e aprecie um café comigo,
E talvez ao final...
Quem vai abocanhar,
Sou eu.

Tempo

O tempo é o pior dos ídolos.
Ele não existe, nunca existiu,
O mundo está em constante movimento,
Mas ele é um só, o agora.

Eu sei, é assustador,
Todos que morreram,
E você que morre a todo agora,
Necessidade maldita de brecar.

O tempo é o pior dos idolos,
O tempo...
Incógnita.

Ardência

O coração que antes doía,
Agora arde pela falta de lembranças,
Corroendo o peito,
Deixando transparente...
Basta olhar nos olhos.

A Lua

A lua está morta,
Sem luz,
Não é possível enxerga-la,
Ficamos a mercê do escuro,
Nós...

Nós que somos violentadas pelo sol,
Ricas almas que vagam sozinhas,
Sem ter onde se apoiar,
E eis que o sol brilha...

Brilha, Queima, Mata...
Violência dentro de casa,
No trabalho e no trânsito...
Onde não era pra ele estar...

Pois bem,
Se não há lua,
Que briguemos pelo Sol.

Gênese de uma relação.

Noto pelo passar dos dias o quanto falar é um exercício difícil, e não é só pela agradabilidade de uma conversa, mas virar raízes para cima não é um exercício tão simples.
Falar pode ser difícil, pode ser inconveniente e pode te deixar com uma sensação inquietante: a sensação de que você é mal quisto. É uma sensação terrível, eu não chego a ter palavras que sejam suficientes para escrever sobre isso, sentir que ser o que é significa ser o que as pessoas temem que seja, ou um pouco mais profundo que isso, deliberar contra a vontade majoritaria de ser aquilo que é agradável.
Ah Nietzsche, como faz pra escapar do que te incomodava? Pois o incômodo é igual, a conclusão pode ser triste, mas não tem nada de ingênua, antes estar acompanhado da solidão do que de falsas companhias. Bem, é esse o caminho, mas o que fica como reflexão é como estabelecer vínculos afetivos que estejam de fato ali? Como distinguir o fiel do infiel?
Ofélia...
Chegar nessa melancolia é realmente quase como enlouquecer, é basicamente virar pro mundo e dizer que estou triste, e mais, estou bem estando triste, eu sei que é um estado de negociação com o mundo.
Será que terei que sacrificar mais algo em breve? Me pergunto o que me sobrou...
Um dos meus melhores amigos parou de falar comigo recentemente, estou plenamente chateado, principalmente por não entender o motivo, embora ele tenha explicado... Eu devo ter alguma dificuldade de entender o outro, e não é como se eu não estivesse disposto a ouvir...
Coloquei em cheque o amar.
Será mesmo que eu sei amar alguém? Se sim, então por que me sinto um lixo com isso? Se não, então aonde estou falhando?
É difícil colocar uma questão em cheque quando a referência, ou a gênese da pergunta não está consigo.
Uma amizade vai embora com as chaves do castelo... Aqui morre uma parte de mim, impossível de se trabalhar, de crescer, de cuidar... E por mais que isso fosse difícil, não estava disposto a tal ponto... Espero que a menos eu tenha lhe dado algum momento alegre, isso ja bastaria não só por uma vida, mas pela vida dele.
Bem... Talvez eu saiba amar.
Ou talvez não?

Levanta.

Algumas reflexões recentes tem me deixado aflito, nada tão em relação ao mundo, já conclui que não sou nenhum heroi e não vou conseguir resolver tudo e que esse tipo de coisa exige tempo, e tempo é a pior coisa que alguém pode desejar.
Dito isso, eu estou perdido, pra ser sincero, eu estou duvidando se sou capaz mesmo de amar alguém, não no sentido sexual da coisa, mas, visto o que tem acontecido recentemente, eu acho que não.
Talvez quando as pessoas falem de amor seja também só uma forma de aliviar o mundo sobre as costas e de alguma forma isso não interessa a elas, eu ja não sei, eu estou atordoado na cama, são 5 da manhã e não vejo motivo pra levantar da cama.
Que a vida é dor e sofrimento, não tenho dúvidas, talvez isso só esteja ocupando minha cabeça pois não estou vendo um encontro possivel pra sanar o que sinto nesse momento, me aconselharam a dar tempo ao tempo. Mal sabem como eu odeio ouvir esse tipo de coisa, eu não quero viver desejando morrer, eu gosto de viver e até então estava certo de que sabia amar.
Eu não entendo.
Eu odeio não entender as coisas.
Odeio quando me tiram a oportunidade de entender.
Também sinto que minha vida ja chegou ao fim, isso é estranho, mas eu realmente sinto isso, eu devo estar em algum tipo de crise da meia-idade antes da hora, estou vendo minhas relações desandarem uma a uma, e sem nenhuma justificativa em mãos, de repente me pego com tantas dores, tantas magoas tendo que pedir desculpas por um erro que eu nem entendi ser cometido.
Que todo mundo está mal, isso sem dúvidas, mas em que momento eu deixei de demonstrar amor aos meus próximos? O que mais me assusta é que tudo estar desmoronando parece ter a ver com as demonstrações.
Ja não sinto vontade de levantar da cama, já são 5:10, estou com vontade de tomar café e meu estômago dói, talvez por não ter me alimentado direito ontem, fui dormir cedo demais, acordei no meio da noite e aqui estou, pensando em que tipo de vida eu quero pra mim, e se de fato quero alguma vida, isso também é uma possibilidade.
Eu não gosto quando escrevo algo que não me ajuda a relaxar, me sinto idiota de alguma forma, como se estivesse me fazendo de vítima, mas esse tipo de texto pouco tem a ver com alguém ler, tem a ver com eu escrever, mas não foi tão efetivo assim.

Cochicho

Vitimas de um bombardeio,
Não nos contam que pode dar errado,
Não nos contam do que se trata,
De uma guerra de ego...
Que define corpos e personalidades,
Como ser e não ser.
É um jogo falido,
E o pior,
Ninguém está vendo escapatória,
E sufocados pelas informações,
Estamos apequenados, tristes.
Deprimidos e ansiosos...
E o pior, ninguém te conta.
Até a mais bela das artes, as músicas,
Massacradas por um ideal de beleza,
Que não existe, não há, não é.
É tudo fantasia,
Mas ninguém te conta.

O Zero

Calculando o valor,
Nove, seis, dois, sete...
Todos valorados,
Equilibrados, taxados,
Agora todos sabem quanto valem,
E tentam-se equilibrar a seus equivalentes,
Dinheiro, corpo, idade, tamanhos,
Tantas variáveis,
O que será que ocorre com o zero?
O transviado da equação...

Quem é o zero?

Sujeito à liberdade

Eu resolvi,
Eu consegui resolver tudo,
A minha casa,
O meu relacionamento,
A minha faculdade,
Minha familia,
Meu carro,
Minha moto,
Até meu bichinho de estimação,
E foi bem simples.

Desisti.

Outros olhos.

Eu só espero que o seu peito estremeça,
Que uma agulha passe por ele,
Cada vez que cruzar com meus olhos,
Toda vez que esbarrar com minha lembrança,
Eu espero que doa,
Eu torço para que a sensação te perfure.

Assim, dessa forma,
Eu espero que doa,
Toda vez que lembrar...
Eu quero sentir o constrangimento,
Sua vergonha.

Não quero que você morra,
Nem que se ferre,
Nem que tenha azar.
Muito menos que sua vida seja destruída.

Eu só queria que você tivesse o leve sabor,
Dessa dor que me assola.
Mas eu sei que você é insensível demais.
E que jamais saberá.

A Dama.

Serei sua companhia de uma noite,
uma bastará,
depois de mim, ninguém mais,
Eu serei dura, fria,
Eu acabarei com seu tesão,
em um encontro só.

Eu serei a que te faz esquecer dos problemas,
das dores e do teu sofrimento,
sou eu aquela que te aguardará em casa,
te retirarei de teu corpo,
e afogarei suas magoas.

Você não terá tempo de falar,
Você não terá tempo de gemer,
não terá tempo de agradecer...
Não terá mais tempo,
Pois eu sou a Morte,
E aguardo o nosso encontro.

Já dizia Rita Lee

Eu e o Mundo

O Mundo e Eu

A mesma conversa sempre,

a mesma promessa,

a mesma culpa,

o mesmo medo,

a mesma razão,

o mesmo Deus....

Que desesperador afogar-me na magoa alheia,

Na frustração de quem não vibra com a vida,

De quem deixou de amar para se apaixonar,

De quem faz do tempo aqui uma eternidade tolerada,

Não pretendida.

Vocês são o xorume, isso é um escarnio da existência,

São a mediocridade humana,

São insignificantes,

São a vergonha, a culpa e a miséria.

Vocês são o que fazem.

Eu não aguento a ladainha cínica,

de rostos que aguardam a morte em silencio,

corpos que não dançam,

de vocês, podres, que me enchem o saco,

Eu quero morrer perto de vocês,

Vocês são a escória da vontade de viver,

Inanimados.

Quem não está verdadeiramente do meu lado,

Que saia da minha frente.

Já dizia Rita Lee.

Vida Boa?

É impressionante como a expectativa machuca, é bem cliche dizer isso, mas dessa vez, estou com um olhar menos concentrado no eu e visualizando a vida como um todo, e percebo que as pessoas se frustram por que a vida não é exatamente o que prometeu ser, ou ainda, a vida tem sido um fardo a se suportar, uma expectativa sob a propria vida.

Acho valido lembrar que expectativa e medo são dois lados de uma mesma moeda, quando criamos expectativas é por que tememos o contrario e vice versa, e a sensação de que a vida poderia ser diferente tem dois viés, o da expectativa, que vem antes de algo acontecer e o da angustia, do presente.

A expectativa de uma vida diferente é a sensação de que a vida ainda não começou, um anseio.

A angustia é a nitida sensação de que já é tarde demais.

Embora sejam coisas em momentos completamente diferentes, essas parecem ser a natureza do ser humano, a expectativa desejante berrando antes e agora, antes em forma de expectativa e agora em forma de angustia.

Esse texto vem pra sussurar uma coisa, a natureza desejante é parte constitutiva da vida, desejo de comer, beber, cagar, dormir e por ai vai... Mas a expectativa não tem outra função se não a de nos entristecer, até quando a expectativa é saciada, ela nos entristece por que quando conseguimos algo que desejavamos, ja não desejamos mais e aquilo perde o seu valor instantaneamente.

Um conselho seria aproveitar melhor o mundo que se apresenta sem querer tranforma-lo por inteiro e sim, transforma-lo na medida em que ele te agride e te deteriora, ou seja, na medida em que voce sente fome, sede, e por ai vai, quanto menos melhor.

Enquanto a expectativa pode ser, em grande medida, eliminada, a angustia aumentará a cada segundo que se passa, quanto a essa, não ha muito o que fazer, por que por algum motivo nós gostamos de pensar que a vida poderia ter sido diferente do que de fato ela é.

Você pode se afirmar varias vezes que a vida não poderia ser diferente, e que isso é só coisa da sua cabeça, mas, o fato é que é justamente por ser algo que se passa pela sua cabeça que isso se justifica, afinal, se a vida não pudesse ser outra coisa, não haveria justificativa para falar em liberdade, tudo seria fruto do destino.

Mas, o tema aqui não é liberdade, e sim, sofrimento.

Sofremos pela expectativa.

Sofremos pela expectativa por que de alguma forma aprendemos que a melhor forma de viver é arranjando um amor bonito, companheiro, rico... casar, morar numa mansão luxuosa com varios aparelhos...trabalhar pouco e ganhar toneladas de dinheiro, ter um iate, ter filhos e varias outras coisas.

Agora faz um exercicio: imagina um monte de gente vivendo e pensando dessa forma, qual é a chance de todos estarem felizes nesse jogo? Bem, se tiver dificuldade de imaginar, olhe todos a sua volta, é assustador como todos estao frustrados por esperar tanto do mundo e vivendo uma vida medonha, não por ser uma vida medonha, mas só por que o temor e a esperança andam de mãos dadas, a vida é medonha por que há muita expectativa.

Esse jogo faz a gente temer a própria vida, e não é por outro motivo que os quadros de suicidio, depressão e ansiedade aumentando, por que ninguem aguenta tanto sofrimento.

A ideia aqui é parar e respirar, e ver quais dos teus desejos são realmente seus, esse é o primeiro passo para evitar frustraçoes que não são suas, são do jogo, do jogo de desejar, de conquistar, de falhar.

Essa reflexão talvez te leve a conclusões dificeis de engolir, mas necessarias de pensar.

O que a vida precisa pra ser boa?